I Pedro 3:19-20: “No qual também
foi, e pregou a espíritos em prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes,
quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava
a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água.”
Três grupos “disputam” este texto
no intuito de abonar suas doutrinas. O grupo espírita, para aceitar a
existência de “espíritos desencarnados, encarnação” etc. O grupo evangélico
para advogar a imortalidade inerente da alma. Já os católicos nestes versos se
apóiam para provar o purgatório.
Muitos, assim, entendem que em um
espaço entre Sua crucifixão e ressurreição, Jesus pregou aos supostos
“espíritos desencarnados” dos antediluvianos. Efetivamente, tal texto deve ser
analisado sob a luz de outros textos paralelos para descobrir-se a verdade e o
que pretendia Pedro em sua explanação. Antes, porém, você não deve prescindir
da eterna verdade que a Graça finda por ocasião da morte da pessoa, e não há,
em hipótese alguma, segunda oportunidade de arrependimento para o pecador, após
seu falecimento. Com a morte cessam as oportunidades de salvação. Heb. 9:27;
Ecl. 9:10; Gál. 6:10.
Diz a Bíblia que a alma é mortal
(Eze. 18:20), e que os mortos estão com a consciência apagada na morte (Sal.
146:4; Ecl. 9:5 e 6; Jó 14:14 e 21; João 11:11; I Tess. 4:13). Não há esperança
alguma de os mortos aceitarem a salvação (Isa. 38:18 e 19). Por conseguinte, é
horrível admitir que na sepultura haja seres conscientes, capazes de ouvir e aceitar
o evangelho. Pior ainda com referência aos contemporâneos de Noé que foram
afogados pelas águas do dilúvio.
Ademais, aceitar que Cristo
pregou a “espíritos desencarnados” dos antediluvianos no hades
(sepultura-inferno), é aceitar, de certa forma, a estranha doutrina do
purgatório. Fosse também verdade que tal pregação se deu, teremos de admitir
que Jesus agiu com parcialidade, isto é, concedeu segunda oportunidade de
salvação aos pecadores do tempo de
Noé e aos demais pecadores de
outra geração, não. Até Lúcifer, assim, teria razão ao reivindicar segunda
chance de perdão.
Ora, o próprio Senhor assegurou
que o único pecado que não tem perdão é o pecado contra o Espírito Santo (Mat. 12:31).
E este pecado é a resistência sistemática e deliberada aos apelos dEste divino
Ser. A pessoa que comete tal pecado, está selada para a perdição. Os
antediluvianos tiveram cento e vinte anos de Graça (Gên. 6: 3). Todo esse tempo
o Espírito Santo apelou insistentemente aos seus corações através do pregoeiro
da justiça – Noé (II Pedro 2:5); e estes, rebelados, resistiram, recusaram a
longanimidade de Deus, até que a paciência divina esgotou-se e, assim, cometeram
o pecado imperdoável. E, se é imperdoável, não pode haver segunda oportunidade
de perdão nem mesmo vivo, quanto mais morto. Finalmente, Pedro não diz que eram
“espíritos desencarnados”. Informa apenas: “espíritos”.
Portanto, nesta assertiva do
apóstolo, o lógico e razoável é aceitar que o “espírito” é um símbolo de
pessoa. Exemplo:
Meu espírito significa mim,
eu.
Teu espírito significa tu,
você.
Adam Clark, concluindo pela
impossibilidade de se tratar de “espíritos desencarnados” diz que a frase “os
espíritos dos justos aperfeiçoados” (Heb. 12:23) “certamente se refere a homens
justos, e homens que se acham ainda na igreja militante; e o Pai dos
‘espíritos’ (Heb. 12:9) tem referência a homens ainda no corpo; e o ‘Deus dos
espíritos de toda a carne’ (Núm. 16:22; 27:16) significa homens, não em estado
desencarnado.” – Clarke’s Commentary, Vol. 6, pág. 862.
Eminentes teólogos partidários da
doutrina imortalista, recusam a teoria de que Pedro, neste texto, ensina a imortalidade
da alma.
Eis alguns: Dr. Pearson, da
Igreja Anglicana, diz: “É certo pois, que Cristo pregou àquelas pessoas que nos
dias de Noé eram desobedientes, em todo o tempo em que a ‘longanimidade de Deus
esperava’ e, consequentemente, enquanto era oferecido o arrependimento, e é
igualmente certo que Ele nunca lhes pregou depois de haverem morrido.” –
Exposição do Credo, Dr. João Pearson, grifos meus.
Agora o testemunho de João
Wesley: “Por meio de que Espírito Ele pregou? – Através do ministério de Noé,
aos espíritos em prisão, isto é, os homens perversos antes do dilúvio. ...
Quando a longanimidade de Deus esperava. Durante cento e vinte anos, por todo o
tempo em que estava sendo preparada a arca; quando então Noé os admoestava a
que fugissem da ira futura.” – Explanatory Notes Upon the New Testament, pág.
615.
Finalizando, irmão, a obra de
Jesus foi a “abertura da prisão aos presos” (Luc. 4:18-21; Isa. 42:6,7 e 6;
61:1). Toda pessoa desobediente está presa ao pecado (Prov. 5:22). Pecado é a
prisão de Satanás. Quem morre no pecado está irremediavelmente preso até o
juízo final. Heb. 9:27.
Seguramente, os apelos ao
arrependimento feito por Jesus aos homens de Seus dias, foram os mesmos veementes
apelos feitos por Noé em sua época. Em outras palavras: Jesus Cristo pregou aos
antediluvianos pelo Espírito Santo através do ministério de Noé, durante o
tempo de construção da arca; 120 anos.
Fonte: Assim Diz o Senhor