terça-feira, 3 de janeiro de 2017

A Terra Prometida - A morte de Acã



Muitos acompanham as cenas da novela A Terra Prometida,  e há pouco tempo viram os resultados do pecado de Acã. Você que saber a verdade sobre esse relato bíblico leia este post.

A grande vitória que Deus lhes havia ganho, tornara os israelitas confiantes em si mesmos. Porque Ele lhes tivesse prometido a terra de Canaã, achavam-se livres de perigo, e deixaram de compenetrar-se de que só o auxílio divino lhes poderia dar êxito. Mesmo Josué fez seus planos para a conquista de Ai, sem procurar conselho da parte de Deus. Os israelitas tinham começado a exaltar sua própria força, e a olhar com desdém para os seus adversários. Esperava-se uma vitória fácil, e acharam-se suficientes três mil homens para tomarem o lugar. Arremessaram-se ao ataque sem a segurança de que Deus estaria com eles. Avançaram quase até às portas da cidade, apenas para encontrarem a mais decidida resistência.

Tomados de pânico ante o número e completo preparo de seus inimigos, fugiram em confusão pela escarpada descida abaixo. Os cananeus puseram-se em feroz perseguição; "seguiram-nos desde a porta. ... e feriram-nos na descida". Posto que a perda fosse pequena quanto ao número, tendo sido mortos apenas trinta e seis homens, foi a derrota desanimadora para toda a congregação. "O coração do povo se derreteu e se tornou como água." Esta foi a primeira vez que se defrontaram com os
cananeus em combate efetivo; e, se foram postos em fuga diante dos defensores desta pequena cidade, qual seria o resultado nos maiores conflitos que se achavam perante eles? Josué encarou o mau êxito como expressão do desagrado de Deus, e, angustiosamente, apreensivamente, "rasgou os seus vestidos, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do Senhor até a tarde, ele e os anciãos de Israel, e deitaram pó sobre as suas cabeças".

"Ah Senhor Jeová!" exclamou ele, "por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos dares nas mãos dos amorreus, para nos fazerem perecer ? ... Ah Senhor! que direi? pois Israel virou as costas diante dos seus inimigos! Ouvindo isto, os cananeus e todos os moradores da terra nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e então que farás ao Teu grande nome?"
A resposta de Jeová foi: "Levanta-te; por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? Israel... transgrediu o Meu concerto que lhes tinha ordenado."
Era este um momento para ação pronta e decidida, e não para desespero e lamentação. Havia pecado
secreto no acampamento, e este devia ser descoberto e removido, antes que a presença e a bênção do Senhor pudessem estar com o Seu povo. "Não serei mais convosco, se não desarraigardes o anátema do meio de vós." A ordem de Deus tinha sido desatendida por um dos encarregados de executar Seus juízos. E a nação foi considerada responsável pelo crime do transgressor: "Tomaram do anátema, e também furtaram, e também mentiram." Deram-se instruções a Josué para a descoberta e castigo do criminoso. Dever-se-ia empregar a sorte para descobri-lo. O pecador não foi diretamente
indicado, ficando a questão em dúvida por algum tempo, a fim de que o povo pudesse sentir sua responsabilidade pelos pecados existentes entre eles, e assim fosse levado ao exame de coração, e
humilhação perante Deus.

De manhã bem cedo, Josué reuniu o povo, "segundo as suas tribos", e iniciou-se a cerimônia solene e impressionante. Passo a passo prosseguiu a investigação. Mais e mais minuciosa se tornava a terrível prova. Primeiro a tribo, depois a família, depois a casa, a seguir o homem, foram passados pela prova, e Acã, filho de Carmi, da tribo de Judá, foi indicado pelo dedo de Deus como o perturbador de Israel.
Para confirmar seu crime, fora de toda a dúvida, não deixando base para a acusação de que fora condenado injustamente, Josué, de modo solene, conjurou a Acã a reconhecer a verdade. O miserável homem fez ampla confissão de seu crime:

"Verdadeiramente pequei contra o Senhor Deus de Israel. ... Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma cunha de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda." Expediram-se imediatamente mensageiros para a tenda, onde removeram a terra no lugar indicado, e "eis que tudo estava escondido na sua tenda, e a prata debaixo dela. Tomaram pois aquelas coisas do meio da tenda, e as trouxeram a Josué... e as deitaram perante o Senhor".

Pronunciou-se a sentença, e imediatamente foi executada. "Por que nos turbaste?" disse Josué; "o Senhor te turbará a ti este dia." Como o povo houvesse sido responsabilizado pelo pecado de Acã, e tivesse sofrido pelas suas conseqüências, deveria, mediante seus representantes, tomar parte no castigo àquele pecado. "Todo o Israel o apedrejou com pedras." Então ergueu-se sobre ele um grande montão de pedras - testemunho ao pecado e seu castigo. "Pelo que se chamou o nome daquele lugar o vale de Acor", isto é, "perturbação." No livro das Crônicas está escrita a sua memória: "Acar, o perturbador de Israel." I Crôn. 2:7.

O pecado de Acã foi cometido em desafio às advertências mais diretas e solenes e às mais grandiosas manifestações do poder de Deus. "Guardai-vos do anátema, para que vos não metais em anátema", tinha sido a proclamação a todo o Israel. A ordem fora dada imediatamente depois da passagem miraculosa do Jordão, e do reconhecimento do concerto de Deus pela circuncisão do povo - após a observância da Páscoa, e o aparecimento do Anjo do concerto, o Capitão da hoste do Senhor. A ela se seguira a subversão de Jericó, dando provas da destruição que certo surpreenderá todos os transgressores da lei de Deus. O fato de que somente o poder divino dera a vitória a Israel, de que não
entraram na posse de Jericó pela sua própria força, dava um peso solene à ordem que lhes proibia participar dos despojos.

Deus, pelo poder de Sua palavra, vencera aquela fortaleza; a conquista era Sua, e a Ele, unicamente, a cidade com todas as coisas que nela se continham devia ser devotada. Dentre os milhões de Israel apenas um homem houve que, naquela hora solene de triunfo e juízo, ousara transgredir a ordem de
Deus. A cobiça de Acã foi despertada à vista daquela custosa capa de Sinear; mesmo quando ela o levou em face da morte, ele a chamou "uma boa capa babilônica". Um pecado arrastara outro, e ele se apropriou do ouro e da prata dedicados ao tesouro do Senhor - roubou a Deus as primícias da terra de Canaã. O mortal pecado que determinara a ruína de Acã teve suas raízes na cobiça, um dos mais comuns e mais levianamente considerados dentre todos os pecados. Enquanto outras faltas são descobertas e castigadas, quão raramente apenas desperta censura a violação do décimo mandamento.

A enormidade deste pecado, e seus terríveis resultados, são a lição da história de Acã. A cobiça é um mal de desenvolvimento gradual. Acã havia acariciado a avidez ao ganho até que isto se tornou um hábito, atando-o em grilhões quase impossíveis de quebrar. Enquanto alimentava este mal, ter-se-ia enchido de horror ao pensamento de acarretar desgraça sobre Israel; mas suas percepções se amorteceram pelo pecado, e, quando sobreveio a tentação, caiu como fácil presa.

Não são ainda cometidos pecados semelhantes em face de advertências tão solenes e explícitas? Proíbe-se-nos tão diretamente condescender com a cobiça como a Acã foi proibido apropriar-se dos despojos de Jericó. Deus declarou ser isto idolatria. Somos advertidos: 

"Não podeis servir a Deus e a Mamom." Mat. 6:24. 
"Acautelai-vos e guardai-vos da avareza." Luc. 12:15. 
"Nem ainda se nomeie entre vós." Efés. 5:3; Col. 3:5. 

Temos diante de nós a sorte terrível de Acã, de Judas, de Ananias e Safira. Antes de todos estes, temos a de Lúcifer, aquele "filho da alva", que, cobiçando mais elevada condição, perdeu para sempre o brilho e ventura do Céu. E, contudo, apesar de todas estas advertências, impera por toda a
parte a cobiça. Por toda parte se vê o seu rastro viscoso. Cria o descontentamento e a dissensão nas famílias; provoca a inveja e ódio dos pobres contra os ricos; inspira a opressão cruel do rico ao pobre. E este mal não existe somente no mundo, mas na igreja também. Quão comum é achar mesmo ali o egoísmo, a avareza, a ganância, a negligência da caridade, e o roubo a Deus "nos dízimos e ofertas"! 

Entre membros da igreja, considerados idôneos e cumpridores do dever existem, triste é dizer, muitos
Acãs! Muito homem vem majestosamente à igreja, e senta-se à mesa do Senhor, enquanto entre as suas posses se acham ocultos lucros ilícitos, coisas que Deus amaldiçoou. Por uma boa capa babilônica multidões sacrificam a aprovação da consciência e sua esperança do Céu. Multidões permutam sua integridade e capacidade para o que é útil por um saco de siclos de prata. Os clamores dos pobres que sofrem são desatendidos; a luz do evangelho é estorvada em seu caminho; instiga-se o
escárnio dos mundanos pelas práticas que desmentem a profissão cristã; e no entanto o cobiçoso que professa a religião continua a amontoar tesouros. "Roubará o homem a Deus? todavia vós Me roubais", diz o Senhor. Mal. 3:8.

O pecado de Acã trouxe revés a toda a nação. Pelo pecado de um homem, o desprazer de Deus repousará sobre Sua igreja até que a transgressão seja descoberta e removida. A influência que mais temida deve ser pela igreja não é a dos francos oponentes, incrédulos e blasfemos, mas dos que incoerentemente professam a Cristo. Estes são os que impedem as bênçãos de Deus de virem a Israel, e acarretam fraqueza ao Seu povo. Quando a igreja se acha em dificuldade, quando existem a frieza e o declínio espiritual, dando ocasião a que os inimigos de Deus triunfem, então, em vez de cruzar os braços e lamentar sua infeliz condição, investiguem os membros se não há um Acã no acampamento.

Com humilhação e exame de coração, procure cada qual descobrir os pecados ocultos que excluem a
presença de Deus. Acã reconheceu sua culpa, quando era demasiado tarde para que a confissão o beneficiasse. Vira os exércitos de Israel voltarem de Ai derrotados e desanimados; contudo não se apresentou para confessar seu pecado. Vira Josué e os anciãos de Israel curvados em terra, com uma dor demasiado grande para exprimir-se com palavras. Houvesse feito então confissão, e teria dado alguma prova de verdadeiro arrependimento; mas guardou ainda silêncio. Ouvira a proclamação de que um grande crime fora cometido, e ouvira mesmo especificar-se o caráter daquele crime. Seus lábios, porém, estavam fechados. Veio então a investigação solene. Como lhe fremiu a alma de terror, ao ver indicada sua tribo, a seguir sua família e depois sua casa! Mas ainda não proferiu confissão alguma, até que o dedo de Deus se pôs sobre ele. Então, quando o seu pecado não mais poderia
ser escondido, admitiu a verdade. 

Quão freqüentemente se fazem confissões semelhantes! Há uma grande diferença entre admitir fatos depois que os mesmos foram provados, e confessar pecados apenas conhecidos por nós mesmos e Deus. Acã não teria confessado seu crime se não tivesse esperado com isso evitar as conseqüências do mesmo. Mas sua confissão apenas serviu para mostrar que seu castigo era justo. Não havia genuíno arrependimento do pecado, nem contrição, nem mudança de propósito, nem aversão ao mal.
Assim pelos culpados serão feitas confissões quando se encontrarem eles perante o tribunal de Deus, depois de haver sido decidido todo o caso, ou para a vida ou para a morte. As conseqüências que lhes resultarão, arrancarão de cada um o reconhecimento de seu pecado. Será extorquido da alma por um senso terrível de condenação e medonha expectativa de juízo.
Mas tais confissões não poderão salvar o pecador.
Enquanto podem esconder suas transgressões, de seus semelhantes, muitos, como Acã, sentem-se livres de perigo, e lisonjeiam-se de que Deus não será severo ao notar a iniqüidade. Demasiado tarde seus pecados pô-los-ão a descoberto naquele dia em que para sempre não serão purificados com sacrifício nem com ofertas. Quando se abrirem os registros do Céu, o Juiz não declarará com palavras ao homem a sua culpa, mas lançará um olhar penetrante, convincente, e toda ação, todo cometimento da vida, gravar-se-á vividamente na memória do malfeitor. Não será necessário como nos dias de Josué que a pessoa seja pesquisada da tribo à família, mas seus próprios lábios confessarão sua vergonha. 

Os pecados ocultos ao conhecimento dos homens serão então proclamados ao mundo todo.


Extraído de, Patriarcas e Profetas, Pag. 493-498
Ellen G. White

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